domingo, 20 de março de 2011

Mitologização da Sociedade

MITOLOGIZAÇÃO DA SOCIEDADE

Na sociedade moderna a escola tal qual a encontramos no Estado-nação, afirma Ivan Illich, “desempenha a tríplice função, própria das poderosas igrejas no decorrer da História. É simultaneamente o repositório do mito da sociedade; a institucionalização das contradições desse mito e o lugar do rito que reproduz e envolve as disparidades entre mito e realidade”.1
A propósito dos mitos propagados pela instituição denominada escola, Paulo Freire (1979), com propriedade, afirma em sua obra Pedagogia do oprimido que
O sistema educacional mantido pelos conquistadores e colonizadores se dá através da transformação de seres humanos em massas espectadoras passivas e gregárias, por isso mesmo, alienadas de seu humanismo; esse fato ocorre através da educação bancária depósitos e comunicados que nos impõem todos os meios de comunicação com sua mitificação do mundo. Citamos alguns exemplos: o mito de que a ordem opressora é uma ordem de liberdade. De que todos são livres para trabalhar onde queiram. Se não lhes agrada o patrão, podem então deixá-lo e procurar outro emprego. O mito de que esta ordem respeita os direitos da pessoa humana e que, portanto, é digno de todo apreço. O mito de que todos, bastando não ser preguiçosos, podem chegar a ser empresários mais ainda, o mito de que o homem que vende, pelas ruas, gritando: doce de banana e goiaba é um empresário tal qual o dono de uma grande fábrica. O mito do direito de todos à educação quando o numero de brasileiros que chegam às escolas primárias dos pais e o do que nelas conseguem permanecer é chocantemente irrisório. O mito da igualdade de classe, quando o sabe com quem esta falando? é ainda uma pergunta de nossos dias. O mito do heroísmo das classes opressoras, como mantenedoras da ordem que encarna a civilização ocidental e cristã que elas defendem da barbárie materialista. O mito de sua caridade, de sua generosidade, quando o que fazem, enquanto classe é assistencialismo que se desdobra no mito da falsa ajuda [...]. O mito de que as elites dominadoras no reconhecimento de seus deveres são as promotoras do povo, devendo este, num gesto de gratidão, aceitar a sua palavra e conformar-se com ela. O mito de que a rebelião do povo é um pecado contra Deus. O mito da propriedade privada como fundamento do desenvolvimento da pessoa humana, desde, porém que pessoas humanas sejam apenas os opressores. O mito da operosidade dos opressores e o da preguiça e desonestidade dos oprimidos. O mito da inferioridade ontológica destes e o da superioridade daqueles. Todos esses mitos e mais outros que o leitor poderá acrescentar cuja introjeção pelas massas populares oprimidas é básica para a sua conquista, são levados a elas pela propaganda bem organizada, pelos slogans, cujos veículos são sempre chamados meios de comunicação de massas. Como se o depósito deste conteúdo alienante nelas fosse realmente comunicação. 2
Enfim, a respeito da mitologijação posta em prática pelas escolas, quer estejam elas sediadas em reinos, impérios, países fascistas, democratas ou socialistas, pequenos ou grandes, ricos ou pobres, em qualquer parte do mundo, o currículo de tais escolas objetiva iniciar o cidadão no mito de que as burocracias guiadas pelo pretenso conhecimento científico são eficientes e benévolas.3

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 7. Ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1979.
ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. 4. Ed. Petrópolis, 1977

Todo Poder ao Indivíduo

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