LETRAMENTO DIGITAL: ALGUMAS PERSPECTIVAS
Custódio Gonçalves da Silva(*)
Letramento digital é [...] um certo estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela, diferente do estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e de escrita no papel (SOARES, 2001, 151p).
Resumo
Este trabalho discute as modernas tecnologias, a internet e o conceito de letramento digital.
Palavras-chave: educação, internet, letramento digital.
Introdução
Escritos abordando as modernas tecnologias, a internet e o conceito de letramento digital. Apresenta-o sob a perspectiva positivista e também sua crítica no âmbito do pensamento socio-interacionista vygotskiano.
Letramento digital: conceitos e concepções
Nas últimas duas décadas século XX a internet obteve acentuado avanço. Hoje é considerada a principal mídia e em seu contexto se insere o letramento digital. Quer significar esse conceito um conjunto de práticas cujo objetivo é capacitar o educando, para além da decodificação, a fazer uso das tecnologias digitais em um processo de ensino-aprendizagem através do qual ocorra uma aprendizagem significativa, de maneira tal que sua utilização possibilite ao individuo sua melhor inserção na vida social. No entanto, não apenas isso, uma vez que — em se tratando do cyberspace — compor o mercado do trabalho, como trabalhador ou como consumidor, não é o ápice da atividade humana. Há que se atentar para a necessidade de que seja realizada uma análise sistemática ao uso dessa ferramenta para que através dessa crítica possa ocorrer então a conexão do indivíduo com a totalidade do mundo que o cerca e, antes de tudo uma conexão consigo próprio. Portanto, há aí um “para quê”!
De acordo com o posicionamento ideológico da corrente filosófica a qual se está inserido, no âmbito do processo pedagógico do ensino-aprendizagem, têm-se sempre duas possibilidades: o positivismo comteano ou o sócio-construtivismo que se fundam em Vygotski e Piaget.
Sob a ótica positiva, sua lógica é estável, portanto, a finalidade última da aprendizagem — quer seja alfabetização, letramento ou letramento digital — é produzir e perpetuar o sistema tal qual se nos apresenta em um dado momento. Esse modelo se caracteriza por ser o letramento digital uma espécie de instrução, trata-se, portanto, de uma perspectiva ahistórica, em que o educando é treinado, adestrado e, como nos lembra a critica de Paulo Freire (1979) é uma educação bancária, na qual o educando recebe a informação como se fora um depósito.
De acordo com o paradigma da educação proposta, principalmente por Vygotski, cujas ações e pensamentos fundamentam-se nas teorias marxistas, o letramento digital deve servir para que o sujeito, em sua relação com o objeto, obtenha conhecimento. Nesse sentido, a relação sujeito-objeto-sujeito objetiva que o uso das mais modernas tecnologias se constitua em um ambiente de questionamento através do qual se possa dialogicamente, conhecer a realidade. E mais ainda, criticá-la e transformá-la. Portanto, é uma perspectiva histórica na qual o sujeito não é tão somente uma marionete direcionada e controlada pelos bites, antes é participe da sua história e consegue então a conexão própria e com o mundo.
Não se deve, porém, jamais desprezar o fato de que, dos computadores existentes no mundo e ligados à Internet, 86% fazem uso do sistema operacional Windows, proprie-dade do yankee B. Gates; junte-se a isso o fato de que os EUA, proprietários dos satélites no cyberspace, de forma alguma têm seu pensamento educacional sócio-interacionista. Em vista destes, por assim dizer, pequenos entraves apontados na caminhada evolutiva da espécie Homo sapiens, pode-se afirmar, com J-P Sartre, não importa o que eles fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim.
Referencias
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril Cultural, 1987,
SOARES, A. M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23 n. 81, p. 143-160, dez, 2002.
(*) Licenciado em pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), especializando em docencia universitaria pela Universidade Estadual de Goiás (UEG). E.mail: custodio.g.silva@gmail.com